Domingo de Sol

Domingo de sol na simpática Pont des Arts. Apesar da brisa não ser
tão refrescante como no litoral do nordeste e do Sena não ser
Ipanema e não nos permitir tchibuns – fazia um calor para brasileiro
nenhum botar defeito – o final de tarde foi “vachement sympa”.

Brasileiros, aliás, numerosos, reunidos ali, em frente ao Louvre,
marcando espaço na véspera da comemoração de mais um
aniversário da Queda da Bastilha. Recife, Fortaleza, Natal, Salvador,
Sampa, Rio, BH, etc. Sudeste e Nordeste na fita, mas é claro que
não faltou gente do Centro, Norte e Sul do país. Mas se falta a
praia de verdade (Paris Plage é piada), a luz desta cidade não
deixa a desejar.

Esplendor de final de tarde – ou melhor, de final de noite, já que o
sol se pôs lá pelas 23h, quando o calor finalmente cedeu à
brisa. Depois dos tradicionais tons de laranja, rosa e violeta, foi a
vez de uma lua cheia e vermelha brindar os que formavam a maior roda da
ponte, em sua maioria brasileiros, justamente em volta da nossa bandeira
pendurada na murada de ferro e fosforescente à luz do sol poente. Mas
não faltaram nossos anfitriões franceses nem los hermanos
argentinos. Lembrando dos coreanos e de outros turistas de
“n’importe quelle” nacionalidades, que passavam babando e,
muitas vezes, paravam para escutar uma das músicas mais ricas do
mundo (quiçá a mais rica) cantada e tocada pelo povo mais alegre – a
despeito da pobreza material da grande maioria.

É bem verdade que alguns não se deram conta dessa babação
geral, pois estavam ocupados cantado, tocando, vendo o sol se pôr ou
a lua nascer. Mas quem parou para prestar atenção pôde notar que
boa parte dos que passavam em frente à roda sorriam e nos olhavam,
com uma pontinha de vontade mal disfarçada de parar. O Ziraldo tem ou
não tem razão quando diz que o Brasil é o único país cujo
nome já vem seguido de ponto de exclamação? Pois é:

– Tu viens d’où?

– Do Brasil.

– Ah, du Brésil!!!

Também pudera tanta admiração diante de um som tão bom, que ia
de Paulinho da Viola a Luiz Gonzaga, de Zé Keti a João do Vale,
passando por Jacksons e Chicos (Buarque, Science e César),
Antônios (Jobim, Nóbrega) e Geraldos (Pereira, Vandré,
Azevedo). Sem falar nas Claras, Elisas, Marias e Marisas, tantos outros
brasileiros e brasileiras que daria para ficar um dia inteiro apenas
escrevendo nomes. Som que unia cavaquinho à flauta transversa,
violão ao sax, permeado sempre pela percussão tradicional do
pandeiro, tamborim, ganzá e atabaque. Admiração diante de tanta
alegria que emanava dos nossos pesquisadores dublês de músicos e
dos estudantes cantadores brasileiros. Tanto daqueles que estão de
passagem, quanto dos que estão por mais tempo.

Admiração verdadeira diante da comunidade brasileira na França,
que se associa algumas vezes para cantar e mostrar sua cara sorridente
e, vale lembrar também, para fazer valer seus direitos quando a
ocasião pede. Mas como acontece geralmente nesta cidade, o último
metrô (literalmente, e não o filme de Truffaut) marcou o fim dessa
antológica noite brasileira na França. Só mesmo o fim do
transporte barato para colocar a brasileirada na cama tão cedo,
perto de uma da matina, 7 horas após um tímido começo. Se
não, certamente uma parte iria ficar até mais tarde – ou mais
cedo, até o sol aparecer de novo na segunda.

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